Escrevo como quem vive
E faz viver
E cada verso, ao vir-se à luz
Aparta-se do poeta e voa
Em busca da sua rima perfeita
Mesmo que branco
Escrevo como quem goza
O gozo que só o escrever nos dá
É o indescritível prazer solitário
Compartilhado pós-gozo
Com todos que sabem
Da arte do bem-gozar
Escrevo como quem bebe
E delicia-se a cada gole
Cada verso, mais um gole
E na embriaguez
Cuspo longe o nó da garganta
E o poema flui sem censura
E sincero
E sensível
Escrevo como quem chora
E na lágrima põe pra fora
Tudo o que há de mágico
E o que há de trágico
E este orvalho d’alma
Amanhece-nos
E alvorece em versos
Escrevo como quem cai
Pois o verso coxo e débil
Ao quedar-se
Levanta-se outra vez
Com mais vigor e sabedoria
E demuda-se em nova poesia
Escrevo como quem sangra
E faz do sangue, nanquim
E o nanquim municia a pena de ouro
Que rascunha n’alma:
“Cura-te...”
Escrevo como quem sofre
A dor do não escrever
E esta mesma dor alimenta o verso
E o dá de comer
E então o sofrer de não escrever
Transmuda-se em sofrer de escrever
Escrevo como quem morre
E cada último verso
Talvez seja um patético
E melancólico balbuciar de adeus
Escrevo, enfim, como quem tão-somente escreve
Mas, ao fazê-lo
Vive
Goza
Bebe
Chora
Cai
Sangra
Sofre
Morre.
a poesia constrangida de um poeta menor
2 de dez. de 2007
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